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Mostrando postagens de junho, 2024

Especial Lúcio Rangel, parte I - “A ESSE PREÇO, SÓ VESTIDO A RIGOR!”

    Depois de beber e jogar conversa fora com amigos durante toda a noite, o jornalista Lúcio Rangel foi pra casa, dia já claro. No caminho, passou por um botequim. Não pensou duas vezes. “Uísque. Quanto é?”, perguntou. O portuga, de mau humor, apontou para a tabela. Lúcio não disse nada. Contrariado, seguiu seu rumo. Dez minutos mais tarde, voltou ao balcão, de smoking. “Uísque a esse preço, só vestido a rigor. Uma dose, por favor!”

O INIGUALÁVEL MELLO MENEZES

         Ainda há algumas graças em Santa Teresa. Quem mora lá no morro, além de estar pertinho do céu, como diria Herivelto Martins, encontra vizinhos conhecidos com muita frequência. Quando com sorte, vizinhos muito queridos. Pois foi meu caso nesta manhã. Mal embarco na linha 007 (Silvestre-Central) e me deparo com o gigantesco, o monumental, o inigualável Mello Menezes. Depois dos efusivos cumprimentos, me pergunta, já adiantando que a piada é velha e batida; “Vais fazer exame de fezes?”, pergunta, admirado por nunca ter me visto de terno e gravata. Explico meu novo trabalho. Ele, que acompanhou de perto a história de meu desemprego, fica feliz.      Mello, aos 86 anos, impressiona pela vitalidade. Com obras em casa, tratou de pegar um ônibus, sozinho,  para comprar tinta no centro da cidade. De tinta, ele entende. Que o digam João Bosco, Hermínio Bello de Carvalho, Guinga, Claudio Jorge, que tiveram em seus discos a arte de Mello Menezes...

Especial João Gilberto, parte I - JÁ NO ENSAIO, A BUSCA PELA PERFEIÇÃO

Pós-reportagem a partir de um vídeo no YouTube      Estamos em abril de 1978. João Gilberto ensaia o show que fará dali a algumas horas no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com os pés num banquinho, João parece tranquilo. Calça azul e camisa de manga comprida da mesma cor num tom mais claro, conversa com Miúcha, sua ex-mulher. No fundo do teatro, técnicos de som trocam impressões. João maneia a cabeça. A cantora se aproxima. “Não ouço nem o grave nem o agudo”, se queixa. Miúcha abre os braços, como se estivesse indicando para onde as notas devem reverberar. O cantor faz um muxoxo e começa a tocar. ‘Dá licença, dá licença, meu senhor/Dá licença...’ Logo interrompe a música de Denis Brean, o compositor que, segundo ele, fez uma música linda sobre a Bahia sem nunca ter estado lá. “Voltou com o barulho!”, reclama, fazendo círculo com uma das mãos. Dá uma sentença aos técnicos, que estão no fundo do teatro. “Depois de qualquer som, reverbera e distorce”, vaticina. “Uen, uen, u...

1989, CAMPEÕES DA UNIÃO

     Abril de 1988. Depois de uma derrota para o Fluminense, o técnico Pinheiro chegou muito irritado em Marechal Hermes. No centro do gramado, reuniu todo o elenco. Em vez de analisar a lamentável atuação do time, preferiu intimidar os jogadores. “Você já viu o Félix jogar, Gabriel?”, perguntou ao goleiro. “E você, Mauro Galvão, já ouviu falar no Sebastião Leônidas?”, indagou, citando o último zagueiro campeão pelo clube, em 1968. Todos ouviam a bronca em silêncio. Até Pinheiro se dirigir a Carlos Alberto Santos. “E você, Carlos Alberto, conhece o Andrade?”, continuou a  provocação, com ar absolutista. Um pouco distante, Paulinho Criciúma levantou o braço. “Pode falar, Paulinho”, consentiu. “Seu Pinheiro, o senhor pode criticar todo mundo, menos o Carlos Alberto. Durante o jogo, só demos dois chutes. Os dois chutes foram dele”, disse Paulinho, cheio de coragem, para surpresa dos companheiros. Nascia ali o embrião da nossa taça, que levantaríamos pouco mais de um ano...