Pular para o conteúdo principal

O INIGUALÁVEL MELLO MENEZES

 


     Ainda há algumas graças em Santa Teresa. Quem mora lá no morro, além de estar pertinho do céu, como diria Herivelto Martins, encontra vizinhos conhecidos com muita frequência. Quando com sorte, vizinhos muito queridos. Pois foi meu caso nesta manhã. Mal embarco na linha 007 (Silvestre-Central) e me deparo com o gigantesco, o monumental, o inigualável Mello Menezes. Depois dos efusivos cumprimentos, me pergunta, já adiantando que a piada é velha e batida; “Vais fazer exame de fezes?”, pergunta, admirado por nunca ter me visto de terno e gravata. Explico meu novo trabalho. Ele, que acompanhou de perto a história de meu desemprego, fica feliz.

    Mello, aos 86 anos, impressiona pela vitalidade. Com obras em casa, tratou de pegar um ônibus, sozinho,  para comprar tinta no centro da cidade. De tinta, ele entende. Que o digam João Bosco, Hermínio Bello de Carvalho, Guinga, Claudio Jorge, que tiveram em seus discos a arte de Mello Menezes. 

    “Lembranças ao ministro, Paulo!”, se despede o mestre. “Desembargador, Mello, desembargador!”, respondo, entre risos e sorrisos.

Comentários

Textos mais lidos pelo público

O HOMEM GENTIL

     No início de 2006, Eduardo Vinicius de Souza, o maior colecionador de camisas do Flamengo, me procurou. Queria um favor: uma cópia do ‘Caso Verdade’, programa da TV Globo que contava a história de um garoto da Cruzada São Sebastião, conjunto de prédios residenciais para a população carente no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Edu comentou que, num encontro com Adílio, o craque revelou, muito triste, que as imagens da fita VHS onde tinha gravado o programa já estavam muito ruins.      Com algum contato no Projac – o programa estava lá, em rolo de filme – não foi difícil conseguir. “Está aqui na minha mão”, disse a Edu, três dias depois. “Agora é só buscar”. Dez minutos mais tarde, Edu voltou a me ligar. “O Adílio faz questão de te agradecer pessoalmente”, disse. Declinei do convite. O que conversar com ele? Mas, num outro telefonema, Edu disse que o craque insistia. Convencido, fomos encontrá-lo num restaurante da Barra da Tijuca.     ...

Especial João Gilberto, parte I - JÁ NO ENSAIO, A BUSCA PELA PERFEIÇÃO

Pós-reportagem a partir de um vídeo no YouTube      Estamos em abril de 1978. João Gilberto ensaia o show que fará dali a algumas horas no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com os pés num banquinho, João parece tranquilo. Calça azul e camisa de manga comprida da mesma cor num tom mais claro, conversa com Miúcha, sua ex-mulher. No fundo do teatro, técnicos de som trocam impressões. João maneia a cabeça. A cantora se aproxima. “Não ouço nem o grave nem o agudo”, se queixa. Miúcha abre os braços, como se estivesse indicando para onde as notas devem reverberar. O cantor faz um muxoxo e começa a tocar. ‘Dá licença, dá licença, meu senhor/Dá licença...’ Logo interrompe a música de Denis Brean, o compositor que, segundo ele, fez uma música linda sobre a Bahia sem nunca ter estado lá. “Voltou com o barulho!”, reclama, fazendo círculo com uma das mãos. Dá uma sentença aos técnicos, que estão no fundo do teatro. “Depois de qualquer som, reverbera e distorce”, vaticina. “Uen, uen, u...

A VOZ DA SOLIDARIEDADE

     Mais bonito que o gol que deu a vitória ao Botafogo ontem, em Cariacica, só mesmo a declaração de Junior Santos à beira do campo. “O que importa não é o quanto a gente aguenta apanhar. É como a gente pode se levantar." Com a voz embargada, nosso artilheiro se referia a Tiquinho, que perdera o pai dias antes. Era uma resposta às críticas que o companheiro sofrera no amargo 2023 duríssimo para todos os botafoguenses.      Junior Santos não esqueceu de homenagear a ex-sogra, que também faleceu. Antes mesmo de falar sobre a vitória, mandou beijos para a ex-mulher e seus filhos.       Como é bom ver a simplicidade de um jogador, dentro e fora de campo.