Parecia Natal. O ambiente – igrejas seculares, procissões cantadas, mulheres de véus com terços nas mãos – tudo remetia aos céus. Mas não era Natal. Naqueles dias de Páscoa, apenas uma imagem fazia lembrar o nascimento de Jesus. A imagem do senhor de camisa vermelha, baixo, gordinho, cavanhaque branco, meio encurvado, poderia confundir uma criança, que facilmente abriria um sorriso para aquele papai Noel dos trópicos. Num jardim bem cuidado na Colônia, em São João Del Rey, podíamos observar um mineiro típico, embora aquele que seria um grande amigo – vim a saber depois – não tivesse nada de mineiro. Um copo de cerveja e outro de cachaça, cuidadosamente deixado ao alcance da mão, e a prosa corria frouxa. Ali, naquela tarde, o pequenino Antônio recém-batizado, teve que dividir as atenções, Seu avô foi também o astro.
Dos barcos do Clube do Remo às aventuras de um posto de gasolina, aquele gordinho careca tinha muito o que contar. Era presença bissexta. Por isso, fora de seu ambiente, parecia não querer perder tempo. A cada chegada, uma saudação entusiasmada. As amigas das filhas, muitas exuberantes – palavras dele – naquele sol de começo de inverno, faziam, todas elas, festa para o pai de Lia e Nara. Era impossível ficar indiferente àquela voz de barítono. O coroa parecia ter uma varinha de condão. A cada toque, uma nova amizade. De uma hora para outra, lá estava eu, enfeitiçado, confessando segredos e revelando paixões. Apontei, com muita discrição, a menina dos meus olhos, mais linda do que as curvas das montanhas que cercavam aquela cidade.
Ele conhecia a moça. Fanfarrão como só, não se importou em ser cupido. Chamou aquela musa pra perto de nós. “Meu amigo aqui está louco com sua beleza. Vocês formariam um belo casal”, disse, anunciando a propaganda enganosa. A moça sorriu. “Mas ele é bobo. Vai embora daqui a pouco pro Rio”, completou. “Eu ia, eu ia”, respondi, tirando a passagem do bolso, a picando em pedacinhos. Ele aplaudiu a porralouquice. Estávamos mais pra lá do que pra cá. Nosso personagem até cadeira quebrou. Não conquistei o coração da beldade – como era linda, como era linda! - mas foi ela o elo que me uniu àquela figura.
Àquela altura, éramos amigos de infância. Perguntou se eu conhecia o prédio dos jornalistas, no Leblon. “Sim, Nilton Santos morou lá”, informei. “Sim, jogamos uma vez uma pelada no condomínio, junto com aquele jornalista. Como é mesmo o nome dele? Armando Nogueira! Lembrei”, disse, com orgulho. “Como ninguém era de ferro, a gente atravessava a rua depois da pelada para encontrar a turma no Garden, restaurante ali no Jardim de Alá. Bebíamos todas, meu amigo”, contou, todo saudoso.
Dia desses, Pedrinho o abraçou por trás. Deu um beijo em sua careca e foi brincar com as primas. “Esse garoto tem o meu jeito quando eu era criança. E tem o meu nome, Paulinho!”, disse, enchendo o peito de satisfação. Mesmo torcedor do Flamengo, não houve uma vez sequer que não perguntasse pelo meu Botafogo. Da última vez que o vi, comentou sobre o fiasco do ano passado. “Você pode não acreditar, meu irmãozinho, mas fiquei triste por você”.
Quem agora fica triste sou eu. Minhas idas a São João não serão mais as mesmas. As montanhas, os verdes campos, os grupos de foliões, a farra dos seresteiros, aquele lindo sorriso e espírito leve. Nada mais será o mesmo sem o nosso querido Pedro Parente, o Pedrão, o mais mineiro dos paraenses.
Tio Paulo Marcelo, meu pai certamente está feliz em algum lugar por receber essa homenagem linda, de um dia alegre, divertido, leve e cheio de amor e amizade, exatamente como ele era e gostava de viver! Obrigada pela amizade ao longo desses anos todos. ❤️🙏🏻
ResponderExcluirNão conheci o Big Pedro, mas como se vê, após a leitura do texto, me tornei seu amigo íntimo. Vou colocar uma branquinha e derrubar o primeiro gole em sua homenagem.
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