“Perder a gente não perde. Com o Mauro e o Gottardo lá atrás, a gente fica seguro. É só esperar uma chance”. A cada fim de treino em Marechal Hermes, eu ouvia essa mesma frase de Paulinho Criciúma. Era quase um mantra. Ou seria mais uma superstição? “Malandro, é muito difícil, é uma foda ganhar da gente”, me dizia Gil, o braço direito do técnico Valdir Espinosa. Lá se vão 35 anos e vivemos outros tempos. Não há mais um comprometimento dos jogadores com os clubes. Eles são uma espécie de inquilino, que aluga a casa para uma temporada. No verão, prefere a praia, No inverno, a serra. Não há mais aquele carinho pela casa própria. Naquele 1989, dirigentes – leia-se Emil! Emil! Emil! Somente Emil! –; técnico, auxiliar-técnico; jogadores; preparadores físicos; preparador de goleiros; massagistas; motoristas; seguranças; assessores, todos construíram, todos os dias, tijolo a tijolo, aquela que seria a nossa ‘Sagrada Família’ de Gaudi; a nossa Pietá de Michelangelo, o nosso Coliseu romano. E assim, mesmo passadas três décadas e meia, ainda lembramos com carinho a nossa maior conquista, a nossa maior obra-prima.
Desde que garantimos nosso lugar na final da Libertadores (desculpem-me, mas acho essa expressão ‘glória eterna’ uma babaquice), assistimos um time meio sem rumo, sem eira nem beira. Quem vai ao estádio, tem se irritado não só com as chances perdidas, mas com o comportamento de parte da torcida. Há uma regra que aprendi com meu pai. Fora de seu país, não fale mal do seu país – só em casos extremos, de exceção, como uma Ditadura a ser denunciada, como gerações já viveram. Os jogadores parecem estar à beira de um ataque de nervos. E a torcida, calejada e, ao mesmo tempo impaciente, parece não ter forças para outro sofrimento. Mas não há – perdoem-me supersticiosos ou pessimistas – nenhuma relação do Botafogo de 2023 com o que vivemos agora. A começar pelo time titular. De lá pra cá, só um permaneceu titular.
No sábado, depois de lamentável empate, vi cenas tristes. Torcedores raivosos – os mesmos que prometeram, no final do ano passado, a não voltar mais aos estádios, – blasfemavam, zombavam, insultavam nossos jogadores. Antes tivessem cumprido a promessa. Mas muitos desses beócios voltaram na épica vitória, a espalhar vivas e bocas escancaradas. Nada é perfeito nesse mundo de Deus. Como dizia o querido Roberto Porto, não maltratem o Botafogo, mesmo que derrotas tenham nos machucado tanto.
O que importa é que falta pouco para o nosso maior jogo: 120 anos de história numa tarde em Buenos Aires. A nós nos cabe torcer como os argentinos, gritando, berrando e vibrando sem parar. Pedir aos jogadores a mesma paixão que sentimos pelo Botafogo é pedir demais. Só queremos empenho, sangue nos olhos. E que lutem com bravura. Torço que eles saibam que uma vitória significa que serão tão grandes como foram Heleno de Freitas, Nilton Santos, Mané Garrincha, Didi, Gérson, Jairzinho. Ou até maiores do que eles.
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