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Especial João Gilberto, parte II - JOÃO GILBERTO, O ARQUIVISTA DE LUTAS DE BOXE

 


    João Gilberto era Vasco. Mas não torcia pelo Vasco. “Tô nem aí pra esse negócio de futebol”, fala, com desdém, em conversa com amigos dentro de um carro, que rasga as ruas numa madrugada fria de São Paulo. “Eu gosto de boxe”, continua. A moçambicana Maria do Céu Harris, mulher de João, continua. “Boxe o João grava...”. O cantor a interrompe, revelando outra vocação, a de arquivista de vídeos. Além dos exercícios constantes e obsessivos ao violão, deixa a TV ligada todo o tempo, sem som, atento a qualquer imagem que possa enriquecer o acervo. “Toda fita que você vê ali é boxe. Não tem nada que não seja boxe”, diz, pra logo se corrigir. “Tem sim, a morte de Drummond. Morreu hoje a poeta Drummond”, João imposta a voz, imitando um locutor de TV. “Isso eu gravo. Nara [n.e.: Leão, cantora, morta em 1989]. Isso eu tenho lá. Fora isso, é boxe. Gosto tanto!”, diz João, fechando os olhos, plenos de admiração. A paixão por boxe é tanto que João guarda uma luva de Muhammed Ali, uma lenda do esporte.

Vídeo: JOÃO GILBERTO, O GÊNIO EM SUA ESSÊNCIA (VOLUME 1) | Especial


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O HOMEM GENTIL

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Especial João Gilberto, parte I - JÁ NO ENSAIO, A BUSCA PELA PERFEIÇÃO

Pós-reportagem a partir de um vídeo no YouTube      Estamos em abril de 1978. João Gilberto ensaia o show que fará dali a algumas horas no Teatro Castro Alves, em Salvador. Com os pés num banquinho, João parece tranquilo. Calça azul e camisa de manga comprida da mesma cor num tom mais claro, conversa com Miúcha, sua ex-mulher. No fundo do teatro, técnicos de som trocam impressões. João maneia a cabeça. A cantora se aproxima. “Não ouço nem o grave nem o agudo”, se queixa. Miúcha abre os braços, como se estivesse indicando para onde as notas devem reverberar. O cantor faz um muxoxo e começa a tocar. ‘Dá licença, dá licença, meu senhor/Dá licença...’ Logo interrompe a música de Denis Brean, o compositor que, segundo ele, fez uma música linda sobre a Bahia sem nunca ter estado lá. “Voltou com o barulho!”, reclama, fazendo círculo com uma das mãos. Dá uma sentença aos técnicos, que estão no fundo do teatro. “Depois de qualquer som, reverbera e distorce”, vaticina. “Uen, uen, u...

A VOZ DA SOLIDARIEDADE

     Mais bonito que o gol que deu a vitória ao Botafogo ontem, em Cariacica, só mesmo a declaração de Junior Santos à beira do campo. “O que importa não é o quanto a gente aguenta apanhar. É como a gente pode se levantar." Com a voz embargada, nosso artilheiro se referia a Tiquinho, que perdera o pai dias antes. Era uma resposta às críticas que o companheiro sofrera no amargo 2023 duríssimo para todos os botafoguenses.      Junior Santos não esqueceu de homenagear a ex-sogra, que também faleceu. Antes mesmo de falar sobre a vitória, mandou beijos para a ex-mulher e seus filhos.       Como é bom ver a simplicidade de um jogador, dentro e fora de campo.