Foto: Vera Iris Paternostro Culpada! Quando ouvi, de longe, Daniel Barenboim dedilhando uma sonata de Beethoven, fui até a ilha de edição. Lá estava ela, a culpada, com lágrimas nos olhos, fungando e tudo. No corre-corre de um canal de tevê, havia – acreditem! – espaço tanto para o talento argentino como para um artista plástico desconhecido da periferia carioca. Porque a culpada não estava nem aí para o que era televisivo ou não, embora fosse uma mulher essencialmente de televisão. Se algo lhe causasse emoção, por que não espalhar essa emoção? Embora meiga, com a voz sempre doce, serena e baixa, minha amiga tinha fortes convicções. Se alguém duvidasse da audiência de um programa muito denso, dane-se a audiência. E lá estava nossa Quixote a empunhar sua espada. Não havia ali nenhuma arrogância, mas sobrava ironia. “O problema, meu amigo, é que as pessoas não querem escutar os outros. Elas gostam de ouvir as próprias vozes”, dizia. Theresa...
Poucas vezes discordei de Marcelo Sá Corrêa; talvez uma só. “Não entendo, Paulinho, como você não gosta de matemática. Com ela é mais fácil entender o mundo”, me disse, certa vez. Eu não entendo muito bem essa teoria (afinal, não fui aluno do Marcelo), mas tirei dela e tiro desde a última quinta-feira, um consolo. Como foi dito, fui péssimo aluno de matemática, que já me fez repetente algumas vezes. Talvez nosso amigo tivesse razão. Não pelo amor aos teoremas, às equações, às raízes quadradas, mas pela soma. E pelas subtrações. Marcelo somou amigos, carinhos, amor, solidariedade. E, durante sua permanência entre nós, tentou subtrair injustiças e tristezas. Nos últimos tempos, andava feliz da vida com o seu, o meu, o nosso Botafogo, campeoníssimo de tudo. O triunfo do Glorioso foi para ele não um tango argentino, mas um samba na voz do seu amigo querido Nelson Sargento. Porque samba também era uma de suas paixões. Por uma...